NO SEMI-ÁRIDO
Josivan Barbosa Menezes Feitoza1 e Railene Hérica Carlos Rocha2
RESUMO
O agronegócio de frutas no semi-árido tem representando um segmento importante na economia nacional contribuindo para o desenvolvimento de muitos estados do semi-árido. O mercado mundial consumidor de frutas tem estabelecido requisitos sanitários rigorosos, exigindo garantias de qualidade, inocuidade e uma visão diferenciada de produção priorizando a qualidade da fruta e o meio ambiente proprocionando aumento no geração de emprego, renda e melhorias no sistema produtivo das empresas agrícolas. Neste sentido, o objetivo do presente artigo é apresentar o cenário do agronegócio de frutas frescas no semi-árido brasileiro. As exportações brasileiras de frutas aumentaram de 2003 a 2007, com destaque nos estados da Bahia, Pernabuco, Rio Grande do Norte e Ceará que foram os mais importantes no cenário da fruticultura com as culturas da uva, melão, manga, maçã, banana, limão, mamão, laranja, abacaxi e melancia. Neste período houve aumento de US$ 337 milhões para US$ 642 milhões. No Rio Grande do Norte o melão, a banana, o mamão, a melancia e a manga, tiveram destaque, sendo que o melão continua como a principal fruta de exportação do estado, onde as maiores empresas exportadoras possuem o selo de certificação europeu.
Palavras-chave: Semi-árido, desenvolvimento, fruticultura.
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ABSTRACT
Keywords:
INTRODUÇÃO
As conquistas no mercado externo tem resultando, no Brasil, em aumento de área plantada, melhoria da qualidade da produção e da tecnologia, além da maior profissionalização na etapa da comercialização. O agronegócio representa, aproximadamente, 21% do total do produto interno bruto (PIB), sendo responsável por 37% dos empregos e por 41% das exportações. É o setor que pode responder mais rapidamente para a geração de emprego no Brasil já que investimentos na ordem de R$ 1 milhão de reais na agropecuária pode proporcionar até 182 empregos (Lacerda et al., 2004).
Os investimentos empregados nos pólos de Petrolina (PE)/Juazeiro (BA), Linhares/Pinheiros (ES), Chapada do Apodi (RN), Norte de Santa Catarina e em algumas regiões do interior de São Paulo indicam que o potencial exportador só tende a crescer (Vitti et al., 2004).
A produção de frutas no Vale do São Francisco (NE), principalmente voltada para exportação apresenta crescimento contínuo, o que possibilita a transformação da região em grande pólo de fruticultura, gerando empregos e renda para a região.
O pólo Petrolina/Juazeiro conta com mais de 100 mil ha irrigados, garante emprego a 400 mil pessoas em áreas do semi-árido da Bahia e Pernambuco (Corrêa, 2002). Além da manga que tem 60% da sua produção destinada ao mercado externo e da uva que possui 10% da produção vendida para o exterior, frutas como goiaba, coco, melancia e atemóia (pinha) também destacam-se na região (Camarotti, 2000).
Considero o parágrafo anterior desatualizado...
No Rio Grande do Norte, especificamente na região da Chapada do Apodi (a qual também abrange algumas áreas do Estado do Ceará) as áreas de produção tem sido ampliadas para atender o mercado externo. Desde 2002, tem se observado uma intensificação nos investimentos tanto no campo como, e principalmente, na infra-estrutura de pós-colheita e comercialização (câmaras frias, packing houses, mão-de-obra e transporte). Tudo isso para se enquadrar nas exigências feitas pelos países importadores europeus (Vitti et al., 2004).
O mercado mundial consumidor de frutas tem estabelecido requisitos sanitários rigorosos, exigindo garantias de qualidade e inocuidade, o que requer a adoção de uma visão diferenciada de produção priorizando a qualidade da fruta e o meio ambiente. As alternativas, em consonância com as novas tendências para fruticultura, são a adoção de técnicas de produção preconizadas pelos sistemas de produção integrada e orgânica de frutas (Tibola & Fachinello, 2004).
O objetivo deste trabalho é apresentar o cenário do agronegócio de frutas frescas no semi-árido brasileiro relacionado ao desenvolvimento regional e ao potencial de exportação.
O AGRONEGÓCIO DA FRUTICULTURA
O Brasil apresenta superávit na balança comercial da fruticultura desde 1999. Mesmo sob um cenário de câmbio pouco atrativo para as vendas ao exterior, em 2007, o crescimento foi de 45% em relação ao ano de 2006, chegando à marca de US$ 3,3 bilhões. As frutas frescas responderam por US$ 642 milhões, 34% a mais que no ano anterior (Pereira, 2008). Apesar de ser o terceiro maior produtor de frutas frescas do mundo, atualmente, o Brasil tem apenas 1,6% de participação no comércio internacional, destacando-se o mercado da União Européia, com cerca de 70% do volume exportado, sendo a Holanda o principal país comprador e distribuidor da fruta brasileira para o restante da Europa, principalmente Alemanha.
Em 2007, os dez principais produtos exportados na ordem, foram: uva, melão, manga, maçã, banana, limão, mamão, laranja, abacaxi e melancia. Destes dez produtos, destaca-se na produção total nacional do Rio Grande do Norte o melão (67,6%), a banana (41%), o mamão (24%), a melancia (50,6%) e a manga (6,15%) (IBRAF, 2008). O melão continua sendo a principal fruta de exportação do estado, onde as maiores empresas exportadoras garantem a qualidade e aceitabilidade da fruta no mercado por possuírem o selo de certificação europeu (GlobalGep).
Na Chapada do Apodi (Baraúna, Quixeré e Limoeiro do Norte), localizada na divisa entre Ceará e Rio Grande do Norte e a micro-região de Pau Branco (Mossoró) encontram-se as principais empresas produtoras e exportadoras de melão do Semi-Árido. Além destas micro-regiões, outros municípios como Aracati, Jaguaruana, Itaiçaba, Tibau, Icapuí, Apodi, Upanema, Parazinho, Russas, Morada Nova, Grossos e Jandaíra possuem pequenos e médios produtores, estimando-se em 14 mil hectares, a área plantada por safra, e em 204 mil toneladas, o volume exportado, correspondente a um faturamento de US$ 128 milhões, cujos melões tipo Amarelo (várias cultivares), Orange Flesh, Piele de Sapo, Galia, Cantaloupe e Charantais são os mais cultivados.
Na cultura da banana, o Rio Grande do Norte tem se destacado como o principal Estado no faturamento em exportação. Em 2007 foram exportados no Estado cerca de 77 mil toneladas e faturamento de mais de US$ 28 milhões, seguido pelos Estados de Santa Catarina, Ceará e São Paulo, cujas variedades mais cultivadas são a Prata, Pacovan, Prata Anã, Maçã, Mysore, Terra e D’angola; e as variedades do subgrupo Cavendish Nanica, Nanicão e Grand Naine. A Ouro, Figo Cinza e Figo Vermelho, Caru Verde e Caru Roxa são plantadas em menor escala (Mattiaso, 2008).
No semi-árido, as principais micro-regiões produtoras de banana são Bom Jesus da Lapa e Urandi (Bahia), Petrolina e Juazeiro (Pernambuco e Bahia), Baixo Acaraú, Quixeré e Limoeiro do Norte (Ceará) e Vale do Açu (Rio Grande do Norte). No caso específico do Rio Grande do Norte, as expectativas de exportação do produto em 2008 não são animadoras. Somente uma empresa teve uma perda de 1000 hectares de banana para exportação em decorrência das enchentes na Bacia do Rio Piranhas-Assu.
Em se tratando do mamão, os maiores produtores são Bahia, Espírito Santo, Ceará e Rio Grande do Norte, com produção de 726,991, 629,236, 57,741 e 33,773 toneladas, respectivamente (AGRIANUAL, 2008). Segundo levantamento do CEPEA (Centro de Estudos em Economia Aplicada), o Rio Grande do Norte foi o segundo maior exportador, com 24,5%, seguido da Bahia, com 19,57%. A expectativa para 2008 é de incremento no volume exportado de mamão pelo Rio Grande do Norte. A qualidade da fruta (isenta de pragas e a boa aparência) tem sido o principal fator responsável pelo aumento das exportações de mamão no Estado.
As variedades de mamão mais produzidas no Brasil são do grupo Havaí (Golden e Sunrise) e Formosa. De acordo com o produtor Engº. Agrº. Wilson Galdino de Andrade, pesquisador da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, UFERSA, há novas variedades surgindo no mercado, resultantes de cruzamento entre os dois grupos (Havaí e Formosa). Uma dessas variedades é a calimosa que tem se mostrado de excelente qualidade na micro-região de Baraúna, no Rio Grande do Norte. Os frutos são maiores do que os do grupo Havaí e mais saborosos do que os do grupo Formosa.
Na produção de melancia, os estados da Bahia, Paraíba e Rio Grande do Norte são responsáveis por 19,12% da produção nacional em uma área colhida de 21,125 herctares (AGRIANUAL, 2008). No Rio Grande do Norte, os embarques de melancias, em 2007, cresceram 9,7% em volume e 26,1% em receita (Secex, 2008).
Em relação a manga, o mercado mundial a cada dia tem se tornado mais complexo. Atualmente, os principais concorrentes do Brasil são o México e o Peru (Faria et al., 2008). Estima-se que o Brasil tenha exportado, em 2007, cerca de 116 mil toneladas de manga fresca, o equivalente a quase US$ 90 milhões. Desse total, 93% do volume foram produzidos no Semi-árido (Vale do São Francisco). No momento, a região do Vale do São Francisco apresenta mais de 20 mil ha implantados com manga, correspondendo a 320 mil toneladas de frutas frescas, dos quais mais de 30% são destinados aos mercados da União Européia, Estados Unidos e mais recentemente, o Japão.
A manga Tommy Atkins é a variedade predominante no mercado, embora, aos poucos outras variedades como a Kent e a Keitt começaram a ser produzidas. A variedade Tommy Atkins tem revelado boa aceitação no mercado americano, sendo que a Kent e a Keitt têm mostrado boa aceitação nos mercados da União Européia e Asiático (Japão).
Além das culturas mencionadas, a uva, o abacaxi e o limão (lima ácida ou limão tahiti) são produzidos com sucesso nas regiões semi-áridas. A produção de uva concentra-se na região do Vale do São Francisco, destacando-se os estados de Pernambuco e Bahia, com 156,685 e 120,629 toneladas, respectivamente. Juntos os dois Estados correspondem a 21,21% da produção nacional e apresentaram uma área colhida em 2007 de 9,174 ha (AGRIANUAL, 2008). A cada ano, o volume produzido de uvas sem sementes aumenta substituindo as variedades tradicionais, mais clássicas, com sementes. Em 2007, o Brasil exportou, cerca de 79 mil toneladas de uvas frescas com faturamento de quase US$ 170 milhões.
Assim como a uva, as exportações de abacaxi in natura aumentaram significativamente em 2007, tendo maiores perspectivas de aumento para este ano. O principal exportador foi o Ceará com cerca de 30 mil toneladas e um faturamento de cerca de US$ 16 milhões de dólares. No Ceará, a produção de abacaxi está concentrada no DIJA (Distrito Irrigado Jaguaribe Apodi) que utiliza água do Complexo Castanhão através de canais de irrigação alimentados pelo Rio Jaguaribe no município de Limoeiro do Norte. A cultivar MD2 desenvolvida na Costa Rica e importada por multinacional a partir do ano 2001 é a mais produzida no estado, tendo como principais destinos Itália, Alemanha e Holanda.
Quanto ao limão (lima ácida ou limão tahiti), as exportações aumentaram de 2,3 mil toneladas em 1998 para 58,2 mil toneladas em 2007. Em valores, as exportações de lima ácida aumentaram 30 vezes no período, de US$ 1,4 milhão para US$ 41,7 milhões, entretanto, isto representa apenas 5% do que é produzido (Secex, 2008).
De 1998 a 2007, o preço do limão exportado aumentou 17,36%, de US$ 0,61 para US$ 0,72 o quilo (Secex, 2008). A campanha da Abpel de divulgação da fruta na Europa é um dos fatores que contribuem para o aumento nas exportações de limão. A Abpel tem se dedicado muito à divulgação externa distribuindo limão com um folheto contendo informações sobre a fruta e receitas, como a da caipirinha brasileira, na Alemanha. Além da divulgação em praças e supermercados, há a promoção do limão em escolas de culinária para conquistar os futuros formadores de opinião da gastronomia européia.
Apesar de São Paulo ser o principal produtor de lima ácida, a cada ano, registra-se aumento de áreas com o cultivo desta fruta nas regiões Semi-Áridas da Bahia e Minas Gerais (AGRIANUAL, 2008).
Na Bahia, os principais pólos de produção de lima ácida tahiti são os municípios de Cruz das Almas, Rio Real, Alagoinhas, Iaçu, Itaberaba, Barreiras e Eunápolis, onde a estrutura fundiária é constituída, basicamente, por produtores com área inferior a 10 ha (65%) e outros 25% com área entre 10 e 50 hectares (Amaro et al., 2003).
A tendência é que mais e mais pessoas passem a se preocupar com a saúde e o bem estar, ampliando o consumo de frutas. Isso pode proporcionar novos aumentos na produção e exportação mundial, principalmente dos países produtores do Hemisfério Sul, como o Brasil, que abastecem os do Norte quando esses estão em entressafra. A demanda por frutas também está aliada à elevação da renda dos consumidores, à urbanização e a melhores níveis de informação e educação. Consumidores norte-americanos, por exemplo, pagam mais por produtos importados desde que apresentem qualidade de acordo com os padrões exigidos. Para garantir qualidade, é necessário melhorar o transporte, aprimorar a infra-estrutura dos portos e adotar selos de certificação.
CONCLUSÕES
As exportações brasileiras de frutas aumentaram de 2003 a 2007, em 90%, subindo de US$ 337 milhões para US$ 642 milhões. O semi-árido foi destaque neste período devido ao aumento na produção de frutas e no valor de mercado, onde os estados da Bahia, Pernabuco, Rio Grande do Norte e Ceará foram os mais importantes no cenário da fruticultura com as culturas da uva, melão, manga, maçã, banana, limão, mamão, laranja, abacaxi e melancia. No Rio Grande do Norte o melão, a banana, o mamão, a melancia e a manga, tiveram destaque, sendo que o melão continua como a principal fruta de exportação do estado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARO, A. A.; CASER, D. V.; De NEGRI, J. D. Tendências na produção e comércio de limão. Informações Econômicas. v. 33, n.4, p. 37-47, 2003.
CAMAROTTI, M. Vale do São Francisco amplia o volume das exportações de frutas. Disponível em:<>. Acesso em: 15 de junho, 2008.
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FARIA, R. N. de; SOUZA, R de C.; VIEIRA, J. G. V.; LÍRIO, V. S. Custo de transação e exigências técnicas nas exportações de manga e de mamão. Informações Econômicas, v. 38, n.5, p. 59-71, 2008.
IBRAF, Instituto de Comércio Exterior. Disponível em:
LACERDA, M. A. D. de; LACERDA, R. D. de; ASSIS, P. C de O. A participação da fruticultura no agronegócio brasileiro. Revista de Biologia e Ciências da Terra, v. 4, n.1, 2004.
MATTIASO, D. Fruta na mesa: musa brasileira. Revista Frutas e Derivados. Ano 3, ed. 9, p. 46, 2008.
PEREIRA, B. Importação: quem ganha, quem perde. Revista Frutas e Derivados. Ano 3, ed. 9, p. 18-24, 2008.
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TIBOLA, C. S.; FACHINELLO, J. C.; Tendências e estratégias de mercado para a fruticultura. Revista Brasileira de Agrociência, v.10, n. 2, p. 145-150, 2004.
VITTI, A.; SEBASTIANI, R. E. G.; VICENTINI, C. A.; BOTEON, M. Perspectivas da fruticultura brasileira exportadora frente aos novos investimentos. Disponível em: http://www.cepea.esalq.usp.br/pdf/oca03.pdf.Acesso em 30 de junho de 2008.
1Engº Agrº Dr. Ciência dos Alimentos, Professor Adjunto da UFERSA, C.P. 137, CEP 59.625-900, Mossoró-RN;
2Engª Agrª, Drª. Fitotecnia, Pesquisadora DCR/CNPq/FAPERN/UFERSA, C.P. 137, CEP 59.625-900,Mossoró-RN.E-mail: raileneherica@hotmail.com
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