domingo, 31 de agosto de 2008

Fruticultura na Chapada do Apodi - RN - CE

UFERSA - A UNIVERSIDADE DO SEMI-ÁRIDO
DISCIPLINA: INTRODUÇÃO À AGRONOMIA
PROFS: JOSIVAN BARBOSA MENEZES FEITOZA – GEOMAR GALDINO DA SILVA
ASSUNTO: NEGÓCIO RURAL NO SEMI-ÁRIDO
FONTE: DIÁRIO DO NORDESTE (23.08.08)

1. Ceará se transforma em uma nova terra de oportunidades
Formatação
Jackson de Souza é um dos 48 produtores parceiros da Frutacor, empresa-âncora considerada modelo de integração com pequenos fruticultores da Chapada do Apodi (Foto: SILVANA TARELHO)
O Diário do Nordeste percorreu mais de 2.000 quilômetros, pelo Interior do Estado, mostrando a força do campo.
O agricultor Jackson José Lima de Souza, 39 anos, mal consegue esconder a alegria: depois de meses de plantio, colheu a primeira safra de mamão tipo formosa. A produção, oriunda de dois hectares de terras no Distrito de Irrigação Tabuleiro de Russas (Distar), garante renda para o sustento dele, da esposa e dos dois filhos, além dos salários pagos a dois trabalhadores rurais. A melhor notícia é que toda a safra — entre 80 e 100 toneladas — já está vendida, rendendo de R$ 20 a R$ 22 mil por hectare.
Jackson é um dos 48 produtores parceiros da Frutacor, empresa-âncora considerada modelo de integração com pequenos fruticultores da Chapada do Apodi — vasto platô que une o Rio Grande do Norte ao Ceará —, onde são produzidas, atualmente, milhares de toneladas de frutas destinadas aos mercados interno e externo. A Frutacor entra com assistência técnica, garantia de comercialização e liquidez no pagamento. Os agricultores, com a terra, insumos e mão-de-obra.
Força do campo

O agronegócio da fruticultura irrigada é apenas um dos exemplos bem sucedidos no Ceará. Há registro de bons resultados também nas áreas da floricultura e agropecuária. Em busca de experiências como a de seu Jackson e do empresário João Teixeira, dono da Frutacor, o Diário do Nordeste percorreu mais de 2.000 quilômetros, pelo Interior do Estado — chegando até as cidades vizinhas de Mossoró e Baraúnas, no Rio Grande do Norte, mostrando a força do campo e a possibilidade de transformação na vida dos cearenses. Em uma semana, a reportagem acompanhou o preparo da terra para o plantio, do Icapuí até Limoeiro do Norte. Pode ver também os estragos causados pela chuva nas lavouras de melão em Mossoró.
A fruticultura é, sem dúvida, o lado mais desenvolvido, sobretudo quanto o assunto é o mercado internacional. As exportações de frutas do Estado saíram de US$ 874 mil, em 1994, para R$ 77,2 milhões, em 2007. Ou seja, cresceram 88 vezes. No mesmo intervalo, as vendas externas brasileiras de frutas frescas cresceram cinco vezes, passando de US$ 127,5 milhões (1994) para US$ 642,7 milhões (2007).
Hoje, pelo menos duas das quatro maiores multinacionais da área de fruticultura já produzem em terras cearenses: a Fyffes e a Del Monte Fresh. A primeira atua de forma consorciada com a brasileira Nolem (do inglês melon, lido de trás para frente), na produção de bananas para exportação, na Chapa do Apodi. A segunda produz abacaxi e melão, também na região irrigada com as águas do Rio Jaguaribe.

SAMIRA DE CASTRO
Repórter

2. Estrangeiros estão de olho nos perímetrosFormatação
Em áreas como o Jaguaribe-Apodi e Tabuleiro de Russas, é possível tirar até 2,5 safras por ano (Foto: SILVANA TARELHO)

Um verdadeiro oásis, a região jaguaribana abriga centenas de médios produtores — nacionais e estrangeiros —, como João Saloutti, um libanês que cultiva melão e manga. E, tudo indica, vem mais investimento por aí. Ano passado, a multinacional Dole mandou um de seus técnicos agrícolas para estudar os solos na região. Namoro que já dura tempos, mas nada oficial.
O pessoal da Dole ficou impressionado com a evolução do Tabuleiro de Russas. Desde 2005 que eles prospectam oportunidades aqui´, diz Vandemberk Rocha de Oliveira, gerente de Operação e Manutenção do Distrito de Irrigação Tabuleiro de Russas (Distar). Terras de oportunidades, fartura, suor e trabalho. Junto com água é crédito, dão condições básicas ao homem que deseja permanecer no campo.
Em áreas irrigadas, como o Jaguaribe-Apodi e Tabuleiro de Russas, é possível tirar até 2,5 safras por ano. E a maior parte das frutas pode ser produzida o ano todo. O Ceará é o 5º maior exportador nacional, atrás da Bahia (4º), Pernambuco (3º), Rio Grande do Norte (2º) e São Paulo (1º).

3. Há empregos para agrônomos e técnicos agrícolasFormatação
Clebson da Silva: escola agrícola o livrou da marginalidade e garantiu bom emprego.

Empresas disputam agrônomos e técnicos agrícolas. O Ceará tem fama de formar bons profissionais na área
O campo de trabalho está literalmente bom. O crescimento do agronegócio refletiu na atuação e no mercado profissional para o pessoal de nível médio e superior da área de agronomia. Hoje, técnicos agrícolas e engenheiros agrônomos são disputados pelas empresas. ´A maior parte dos agrônomos contratados pelos produtores de frutas no Nordeste ou é do Ceará ou da
Paraíba´, comenta Clebson Pereira da Silva, técnico da Agrícola Famosa.

O próprio Clebson é paraibano, de Catolé do Rocha, e trabalha na sede da fazenda em Icapuí. ´Entrei na escola agrícola para fugir da marginalidade. Fui parar, depois de algum tempo de formado, na Maísa´, conta ele, reforçando que hoje sim, há campo de trabalho, literalmente. ´As empresas formam gente recém-saída das escolas ou contratam as experientes de seus concorrentes´, entrega ele.
FormaçãoVandemberk Rocha de Oliveira, gerente de Operação e Manutenção do Distrito de Irrigação do Perímetro Tabuleiro de Russas (Distar) concorda com o técnico paraibano. Há alguns anos, ele não pensava que houvesse bom mercado para o profissional de agronomia. ´Hoje, para os bons, há vagas, com toda certeza´.
De olho nas oportunidades, cada vez mais alunos procuram a Faculdade Tecnológica do Instituto Centro de Ensino Tecnológico (Fatec), em Limoeiro do Norte. De acordo com o professor Ivan Remígio, coordenador do curso Recursos Hídricos e Irrigação, a instituição hoje até ´exporta´ o pessoal formado. ´Cerca de 75% a 80% dos nossos ex-alunos estão empregados. Não ficam todos na região, não. Muitos vão até para fora do Estado´, afirma.A grande vantagem de cursar uma faculdade tecnológica, conforme o professor, é poder entrar em campo mais cedo. ´O curso tem duração de três semestres e uma disciplina de 360 horas/aula de estágio supervisionado. O aluno estagiário, via de regra, tem sido contratado pelas empresas, mostrando que nossos alunos têm saído com bom nível de conhecimento´, avalia.

4. Produtor já pode investir no bem-estar da família
Formatação
Juarez da Costa: prazer de poder investir o dinheiro que consegue com o trabalho na lavoura na educação dos filhos e em melhores condições de moradia Juarez Lúcio da Costa, 43 anos, orgulha-se do trabalho na roça. Graças à terra fértil do Tabuleiro de Russas, ele conseguiu casa própria e outros bens. A maior conquista, responde sem pestanejar: a escola particular, para o filho Joabe, de 16 anos, que sonha em ser advogado.
´Invisto meu dinheiro nos meus filhos. As meninas, Geruza e Geíza, não querem nem ouvir
falar em se desfazer dessa terra´, revela o agricultor.

A vida já foi difícil. ´Mas, agora, tá boa´, comenta ele, relembrando do tempo em que foi embora para a Região Norte, em busca de melhores oportunidades, depois de se decepcionar com o plantio de feijão, no início do trabalho de reassentamento no perímetro irrigado. ´Não fui bem sucedido lá. Mas encontrei um técnico que me ensinou a trabalhar com o pimentão. Comprei dois hectares de terra e fiquei estudando essa cultura´, conta.Com o conhecimento adquirido em Santarém (PA), voltou para Flores, distrito de Russas —´região onde nasci e me criei´, e recomeçou a vida apostando no pimentão.
´Essa área aqui eu plantei com meu dinheiro mesmo. Não foi financiamento do banco não!´, frisa. Com mudas produzidas pela Top Plant, seu Juarez já investiu R$ 7,8 mil na lavoura do pimentão. E tem tirado R$ 2,4 mil por semana, fornecendo 180 caixas semanais na Ceasa. ´Outro dia veio aqui o dono do Center Box [rede de supermercado de Fortaleza]. Ele quer fazer um contrato para o fornecimento de três toneladas de pimentão por semana´, diz ele, pensativo, na dúvida se vai conseguir dar conta de tamanha produção.
Seu Juarez, que é um dos reassentados do Tabuleiro — recebeu lote de terra e equipamento completo de irrigação — só se queixa de uma coisa: plantou mamão, com financiamento do Banco do Nordeste (BNB), mas a chuva em demasia atrapalhou os planos de colheita. ´O mamão não rende 100%. Peguei R$ 50 mil no banco e espero que as coisas melhorem´, diz. (SC).
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5. Classe média em ascensãoFormatação
Limoeiro do Norte agora é a cidade das motocicletas. A melhoria do poder aquisitivo da população proporciona um ´boom´ no consumo de bens duráveis e semiduráveis, com destaque para veículos (Foto: MELQUÍADES JÚNIOR)


O desenvolvimento da agricultura está proporcionando a
ampliação de uma classe média rural
A expansão da fruticultura irrigada, sobretudo em sistema de parcerias entre grandes e médios produtores, está proporcionando ascensão social no meio rural cearense. Uma passada rápida por Limoeiro do Norte confirma empiricamente o que os comerciantes da cidade já sentem no bolso: a força da ascendente classe média rural. ´A cidade das bicicletas hoje é a cidades das motocicletas´, comenta Vandemberk Rocha de Oliveira, gerente de Operação e Manutenção do Distrito de Irrigação Tabuleiro de Russas (Distar).
Para o engenheiro agrônomo, ´hoje, na Chapada do Apodi, tem-se uma classe média rural, sim´. Ele acrescenta que o poder de compra e a melhoria da qualidade de vida da população podem ser mensurados pelo número de motocicletas que circulam na cidade e pela quantidade de mercadinhos abertos. ´Limoeiro ganhou faculdades, tem um Centec´, reforça. Em uma única revenda de motos da cidade, chegam a ser comercializadas 50 unidades por
mês. As motos circulam no Vale do Jaguaribe.
O empresário Marcelo Gadelha, da Nolem, concorda com a chamada ascensão da classe média rural. Segundo ele, apesar da crescente mecanização, a fruticultura ainda é um segmento intensivo de mão-de-obra. ´Hoje, você mantém a população no campo, seja empregada diretamente na produção agrícola, seja nas atividades não-agrícolas geradas, como no setor de serviços e no comércio. Isso diminui o êxodo rural e o conseqüente inchaço das metrópoles´, comenta.
Boa parte da revolução no campo deve-se, conforme Oliveira, ao amadurecimento da visão empresarial do próprio agricultor, que vem aprendendo a apurar custos, precificar os produtos, entre outros. ´O pequeno produtor está mais consciente no negócio em si. O sítio não é mais visto como lazer de fim de semana´, diz. O conhecimento mínimo sobre a questão gerencial é necessário, uma vez que a agricultura é uma atividade de risco. ´Se fosse uma carteira de ação na Bolsa de Valores, eu diria que é de alto risco, pois depende do clima, das
pragas, dos custos e outros fatores´.Consumo potencialAinda longe de chegar ao paraíso, a classe média rural no Ceará responde pelo ´boom´ do consumo de eletrodomésticos, eletroeletrônicos (principalmente aparelhos celulares), veículos (sejam eles utilitários ou de passeio) e até pelo aquecimento dos negócios da construção civil. Segundo o estudo ´Brasil em Foco — IPC Target 2008´, da Target Marketing, este ano, o consumo urbano total no Ceará deve somar R$ 45,8 bilhões, ao
passo em que o rural atingirá R$ 4,0 bilhões.
Conforme a pesquisa da Target, no ranking dos 500 maiores municípios brasileiros em potencial de consumo, o Estado apresenta pelo menos oito representantes. Liderada por Fortaleza (7ª colocada nacional), a participação cearense inclui Caucaia (139º ), Juazeiro do Norte (171º), Maracanaú (193º), Sobral (228º), Crato (336º), Iguatu (415º) e Maranguape
(445º lugar). (SC)
6. FIQUE POR DENTRO
Campo aparece como celeiro de oportunidades
As grandes levas de retirantes rumo às cidades foram impulsionadas pela expansão dos empregos na construção civil e na indústria nos anos 60 e 70. A recessão nos anos 80 e os novos métodos industriais na década seguinte reduziram a procura pela mão-de-obra barata,
mas pouco qualificada, que vinha do campo.
Hoje, a agricultura moderna corta mão-de-obra no mesmo ritmo com que aumenta a produtividade. No entanto, com mesma velocidade com que desemprega, o campo brasileiro vem ficando cada vez mais próspero, desenvolvendo outras atividades produtivas.O Brasil é o maior exportador mundial de soja e suco de laranja, o terceiro em carne e frango. Só perde na produção de grãos para os Estados Unidos e a China.
CONSUMO RURAL
4 bi de reais é o quanto deve movimentar o consumo rural no Ceará este ano, contra R$ 45,8 bilhões na área urbana, segundo o estudo ´Brasil em Foco IPC Target
2008´

7. Eletrovale fornece soluções agrícolas

Formatação
Negócio que deu certo: investir em equipamentos elétricos e de irrigação levou empresa a abrir novas filiais (Foto: SILVANA TARELHO)
Há 20 anos, os irmãos Valério, Paulo Jorge e Luiz Alberto Freire Maia resolveram apostar no potencial de irrigação do Vale do Jaguaribe e abriram a Eletrovale Serviços de Engenharia LTDA. Desde então, muita coisa mudou no cenário do agronegócio. E a empresa, especializada em projetos e equipamentos elétricos e de irrigação, só ampliou seu raio de atuação, passando a contar com filiais em Marco e em Sobral.

´O Vale do Jaguaribe possui dois grandes projetos de irrigação: o Jaguaribe-Apodi e o Tabuleiro de Russas. E o potencial de mercado no nosso segmento ainda é grande, pois várias empresas agroindustriais querem se instalar aqui´, resume o engenheiro elétrico Valério Freire Maia. Luiz Alberto, emenda que a empresa familiar hoje tem 43 funcionários. Ele se orgulha de ter estudado fora — Fortaleza, São Paulo e até em Israel — mas estabeleceu o
negócio na cidade-natal.
Hoje, com a agricultura irrigada, a cidade respira outros ares. ´Mesmo o comércio funciona em função dos perímetros, em torno dessas agroindústrias. E o mercado é fruto de financiamento bancário, principalmente do BNB´, diz.

A concorrência no ramo é mundial, o que impõe desafios e reciclagem permanente. Para tanto, Luiz Alberto frisa que faz cursos em Israel a cada dois anos. ´Temos uma parceria com a empresa israelense Netafim que treina seus revendedores´, informa. (SC)

8. Agronegócio movimenta setores

Formatação
Edileuza e Marcílio viram o agronegócio como oportunidade para abrirem empresa (Foto: SILVANA TARELHO)
Cadeia que responde por 40% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional abrange uma estrutura gigantescaDesde os produtores no campo, passando por fornecedores de insumos e equipamentos, armazenadores, processadores, distribuidores e prestadores de serviço dos mais diversos ramos, até chegar à mesa do consumidor, a cadeia do agronegócio abrange uma estrutura produtiva gigantesca. Driblando as incertezas climáticas e sazonalidade — com tecnologia e modernas técnicas de gestão e planejamento econômico-financeiro — essa cadeia responde por 40% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
Foi na esteira do crescimento do agronegócio na Chapada do Apodi que nasceu a Agrovale — fornecedora de insumos agrícolas. Localizada em Limoeiro do Norte, a 196 km de Fortaleza, a empresa atua há 16 anos. ´Desde então, a gente tem notado o crescimento do mercado agrícola como um todo´, afirmam os proprietários, Edileuza Fama e Marcílio Rangel.
Com uma carteira de 500 clientes — a maioria, pequenos e médios produtores da região —, a Agrovale comercializa fertilizantes, defensivos agrícolas, sementes selecionadas outros
itens da cadeia. ´São mais de 200 itens disponíveis´, completam os empresários.
A empresa deve crescer este ano. Mas nada comparado ao bom desempenho de 2007. ´Vamos ter um impacto do aumento de preços dos fertilizantes. Tem item aqui que o custo subiu 100%´, resume Rangel. Além do crescimento da demanda no Brasil, na China, na Índia e nos Estados Unidos, alguns países deixaram de produzi-los, como a Rússia.
´O principal problema da agricultura mundial hoje é o aumento da demanda por fertilizantes. Aí, vale a lei da oferta e da procura: tem mais gente querendo comprar do que fornecedor, e o preço sobe´, completa Edileuza Fama, cuja empresa gera oito empregos.
Para Edileuza e Marcílio, a agricultura irrigada é um fator primordial para o desenvolvimento local e regional. Embora as grandes empresas atraídas pelo governo não comprem insumos no comércio da região — por questões de mercado, elas negociam direto com os fornecedores maiores. ´Mesmo assim, trouxeram o crescimento, movimentando outros setores da economia e possibilitando a difusão de tecnologia´, completam. (SC)

9. Maior produtora aposta no CE
Formatação
Carro-chefe das exportações da Nolem, o melão tem doze variedades produzidas no Ceará. A safra da fruta vai de agosto a março (Foto: SILVANA TARELHO)
A Nolem, responsável por 40% do melão exportado pelo País, emprega 1,7 mil pessoas somente no CearáA maior produtora e exportadora de melões do Brasil quer crescer ainda mais. E tem tudo para chegar lá, driblando a burocracia, o aumento de custos de produção e tantos outros gargalos que o empresariado sabe de cor. Trata-se da Nolem (do inglês melon, lido de trás para frente), empresa criada pelos irmãos André, Eduardo e Marcelo Gadelha, que trocaram as praias cariocas pelo semi-árido nordestino, em busca de oportunidades na fruticultura. Hoje, a Nolem responde
por 40% do melão exportado pelo País.
´Este ano, vamos produzir 7,5 milhões de caixas de melão e melancia, das quais 1,5 milhões a 2 milhões ficam no mercado interno´, afirma Marcelo Gadelha, que abriu uma brecha na concorridíssima agenda para atender à reportagem, na sede da empresa, em Mossoró. São oito mil hectares plantados no Rio Grande do Norte e Ceará. Terras que, em plena safra [no caso do melão, dependendo do tipo, vai de agosto a março] chegam a empregar 2,8 mil trabalhadores. Na entressafra, o número fica em 1,8 mil.
Empresa altamente tecnificada — possui parque frio para armazenagem com capacidade para 1.100 pallets; estrutura de galpões, incluindo packing, apoio, armazenagem e estoque, totalizando 34.500 metros quadrados — a Nolem ajudou a transformar os municípios de Mossoró e Baraúna e os da região vizinha do Baixo Assu em um dos maiores pólos de fruticultura do Nordeste.
Marcelo Gadelha explica que a Nolem atua no Ceará em três unidades: Terra Nova, em Quixeré; Nova Esperança, no Perímetro Irrigado Tabuleiro de Russas (1.800 hectares arrendados); e na Fazenda Flamengo, na divisa do Ceará com o Rio Grande do Norte. Foi em terras alencarinas que a empresa resolveu apostar numa joint venture (associação) com a norte-americana Fyffes, voltado-se exclusivamente para a produção de bananas para o mercado internacional. No Estado, os empregos diretos chegam a 1,7 mil.
´Produzimos no Ceará 12 variedades de melão´, comenta. Para Gadelha, o governo cearense tem feito uma boa política de incentivo à fruticultura. ´Tanto que estamos apostando no tabuleiro de Russas e fazendo parcerias´. (SC)
ENTREVISTA MARCELO GADELHA
Estado tem boa política, mas ainda restam gargalos para se resolver
Quais os principais entraves ao crescimento da fruticultura irrigada hoje?
Os gargalos maiores do setor, eu diria que são câmbio, legislação tributária brasileira — como tem muito imposto, você acaba exportando custos — aumento de preço de fertilizantes e diesel, além do chamado custo Brasil. As estradas precisam ser recuperadas. Em relação aos portos, é preciso mais agilidade e eficiência na administração dos custos portuários.Como superar esses problemas?
Tem muito gargalo que dá para resolver... No nosso caso, que somos exportadores, o governo poderia trabalhar de forma focada. Pagamos 5,3% de imposto de importação na Comunidade Européia. Isso equivale a quase 14% do valor do FOB, enquanto os concorrentes internacionais têm imposto zero. É um problema que pode ser resolvido com acordos bilaterais.A política adotada pelo Ceará tem incentivado a fruticultura?
O Estado tem feito uma boa política para a fruticultura. Tanto que estamos apostando no Tabuleiro de Russas, associados a pequenos e médios produtores. O governo cearense tem, por exemplo, se empenhado em pagar os créditos de ICMS (Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços) aos exportadores.
Qual o objetivo da Associação Novo Nordeste (Anne), criada pela Nolem?
O objetivo da entidade, criada há três anos, é unir o setor público e a iniciativa privada para promover em conjunto o desenvolvimento da região. Assim, trabalhamos com educação de jovens e adultos, cursos profissionalizantes e apoio social nas comunidades rurais. Os
recursos são provenientes dos sócios-fundadores.
* Sócio da Nolem
PRODUÇÃO7,5 mi de caixas de melão e melancia serão produzidas pela Nolem este ano

10. Estradas são maior gargalo

Buracos, má sinalização e insegurança prejudicam escoamento da safra (Foto: SILVANA TARELHO)
A má conservação das estradas é um entrave para a fruticultura, pois chega a aumentar em
até 30% o custo do produto.
Nem tudo são flores no caminho da fruticultura cearense. Em uma semana de entrevistas pelo Interior, de Icapuí a Limoeiro, passando inclusive por Mossoró e Baraúna, no Rio Grande do Norte, a reportagem ouviu inúmeras críticas dos produtores — pequenos, médios e grandes. A principal delas: as estradas. Intransitáveis em alguns trechos, causam danos às frutas e atrasam o envio das mercadorias ao exterior.´A má conservação das estradas é um entrave para a fruticultura, pois chega a aumentar em até 30% o custo do produto´, afirma o engenheiro agrônomo Bernardo Ehle, gerente da Banesa, em Limoeiro do Norte. No caso da banana, os machucados causados pelo impacto dos buracos fazem com que a empresa perca competitividade no mercado europeu.
Diariamente, Ehle pega a Estrada do Melão (CE 377), que liga o Ceará ao Rio Grande do Norte — parte dela inclusive é de responsabilidade do Estado vizinho. Ele trabalha na Banesa mas mora em Mossoró. O trecho — também percorrido pela reportagem — poderia ser feito em uma hora, não fossem os buracos e a má sinalização, que resultam em mais uma hora de viagem. Os problemas na rodovia motivaram uma pichação na placa de identificação: agora, é a ´estrada do buraco´.
InsegurançaUma das vantagens do Apodi em relação ao Vale do São Francisco era a segurança. ´Em Pernambuco, no trajeto de transporte da fruta, a gente pega a região perigosa do polígono da maconha. Aqui, em 15 dias, dois caminhões foram roubados. As quadrilhas utilizam a carga para esconder as drogas´, diz o agrônomo Aldair Gomes Costa, gerente Agrícola e Comercial da Frutacor.
De acordo com Quintino Vieira, superintendente do Departamento de Edificações e Rodovias (DER), as principais rodovias que cortam o Estado estão passando por uma operação tapa-buraco, com recapeamento total. O objetivo é melhorar o fluxo antes do escoamento da safra 2008/2009.
´Está na previsão do Banco Interamericano de Desenvolvimento um grande investimento. São 27 trechos a serem financiados pelo BID´, completou Vieira. Ele acrescentou que a expectativa do governo é de que a licitação para estes projetos saia este mês ou, mais tardar, no começo de setembro.
Sobre a Estrada do Melão, ele disse que o trecho entre Quixeré e Bom Sucesso, com aproximadamente 30 quilômetros de extensão, vai ser beneficiado com recursos do programa Ceará III. A iniciativa toda envolve investimentos de R$ 406 milhões, sendo 80% (R$ 324,8 milhões) financiados pelo BID e R$ 81,2 milhões, de contrapartida do Estado. Os técnicos do BID inclusive já aprovaram os projetos de recuperação apresentados pelas equipes do DER. (SC).

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