quinta-feira, 11 de setembro de 2008

21 SONHOS DE VINGT- UN

COMO NASCEU A UNIVERSIDADE DO SEMI-ÁRIDO

21 SONHOS DE VINGT-UN

SONHO 1:

ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA DE MOSSORÓ – ESAM

I - O Criador e Consolador
Num distante “Pais” chamado Santana das Lavras do Funil, talvez o mais antigo Edifício da Escola Superior de Agricultura de Lavras, batizado de Álvaro Botelho, hoje sede do Museu BI Moreira, abrigava nos idos 1941, laboratórios e salas de aulas.
Na parte térrea, um professor de bata branca, irrequieto, competente e entusiasta ministrava a disciplina de Matemática.
Chamava-se Fernando Antônio Camargo, apelidado de Fergo.
Um aluno ouvia e prestava atenção aos exercícios de Cálculo Integral e Diferencial. Era nordestino e preferia uma carteira que lhe permitia olhar através da janela, passando por cima do Edifício Odilon Braga, atravessando as serras das Gerias e sonhando acordado, levava nas asas de sua imaginação a idéia de que talvez, num dia remoto, pudesse plantar no chão adusto de sua cidade natal, uma semente à imagem e semelhança da ESAL.
Talvez o nordestino estivesse delirando.
Mas em 1944, ao se grudar em Agronomia, o sonho já ganhava contornos mais definidos.
Em 1948, começou a estudar e a descobrir que outros pioneiros já o haviam antecipado.
Vingt-un construiu a Pré-história do que seria a ESAM.
Ninguém na cidade tinha tido a iniciativa de fazê-lo até então.
Nenhum historiador tentara articular os esforços isolados e pouco conhecido de João Ulrich Graf (16 de fevereiro de 1876), Alípio Bandeira, Tércio Rosado, Antônio Martins de Miranda, Francisco Izódio de Souza, Francisco Vicente Cunha da Mota.
A pesquisa exaustiva de Vingt-un incorporou-os todos à Saga do Ensino Agronômico do Rio Grande do Norte.
“Notícias sobre Graf” foi publicada em “O Mossoroense” de número 76, 77, 78, 79, 80, 81, 83, e 90 de 7 a 16 de fevereiro e 16 de maio de 1948.
Em 1949. Vingt-un estudava Tércio como “ Um precursor do Cooperativismo” (Coleção Mossoroense, Série “B”, nº 4, 1949).
As iniciativas múltiplas de Tércio interessado no Ensino Agrícola foram registradas. Os pioneiros tiveram também o seu lugar naquela pesquisa.
Em 1946, Vingt-un propõe ao reitor Onofre Lopes a criação de uma Escola de Agronomia em Mossoró e convoca Vingt-un e Dix-huit para reforçarem o pleito.
Do mesmo ano é um apelo a três deputados estaduais, ligados a Mossoró, numa mensagem semelhante: Francisco Revoredo, Manoel Avelino e José Rocha. Em 1965, 19 de janeiro, parece que o aluno de 1941, das aulas de fergo continuava delirando com sonhos grafiano.
Escreve a José Guimarães Duque e sugere que a SUDENE crie em Mossoró uma Escola de Agronomia para o semi-árido. E convida o sábio do xerofilismo para Diretor da Escola, se a SUDENE aceitasse o desafio vantaniano.
Finalmente, em 1967, Dix-huit vem a Mossoró, como Presidente do INDA, pela primeira vez.
O Senador Dinarte Mariz lembrava o nome do mossoroense para tão alto cargo.
Dix-huit aceitou a argumentação de Vingt-un e se convenceu de que era hora de Mossoró ganhar uma Escola de Agronomia.
Mas, como justificar sua criação pelo INDA?
Encontrou-se logo uma formula: O INDA faria um convênio com a FUNCITEC (a Fundação da Prefeitura que era uma espécie de Pré-universidade) e lhe repassaria a totalidade dos recursos necessário à implantação da ESCOLA.
Vingt-un convidou João Batista Cascudo Rodrigues a redigir o Decreto da sua criação.
Já escolhera o nome: ESAM, tradução mossoroense da Escola Superior de Agricultura de Lavras, ESAL. O Decreto foi levado por Vingt-un para colher a assinatura do Prefeito Raimundo Soares de Souza, uma das mais formosas inteligências já brotadas no chão potiguar.
Recebido os primeiros repasses, a ESAM começava.
Estávamos a 2 de junho de 1967.
O executor do Convênio INDA/FUNCITEC era a maravilhosa figura de Orlando Teixeira, tão empolgado com as suas tarefas que terminou num leito da casa de Saúde Dix-sept Rosado, levado por estafa alarmante.
Uma meia dúzia de edifícios, laboratórios, tudo que fosse necessário para início do funcionamento de uma escola foi providenciado sem tardança pelo Presidente Dix-huit Rosado.
Não estaremos exagerando: sem Vingt-un a ESAM não existiria, sem Dix-huit, a Escola de Agronomia do semi-árido ainda continuaria um sonho do seu irmão mais moço.
Vingt-un foi o criador, Dix-huit o federalizador (consolidador).
Eis o maior, o incomensurável serviço de Dix-huit: federalizá-la dois anos, seis meses e três dias depois da sua fundação graças ao seu perstígio junto ao Ministro Tarso Dutra.
Uma análise do quadro abaixo denuncia a magnitude do trabalho de Dix-huit.
Eis a relação de 11 instituições agronômicas ou das universidades a que pertenciam, detalhando o ano da criação, o ano da federalização e o espaço de tempo decorrido entre as duas datas:

Nome
Criação – Federalização
Período
Universidade Federal da Bahia
1877-1941
64 anos
Fundação Univ. Fed. de Pelotas
1883-1945
62 anos
Escola Superior de Agronomia de Lavras
1908-1963
55 anos
Universidade federal de Porto Alegre
1896-1950
54 anos
Universidade Federal Rural de Pernambuco
1912-1955
43 anos
Universidade Federal de Viçosa
1928-1969
41 anos
Centro de Ciências Agrárias (UFCE)
1918-1959
41 anos
Universidade Federal do Paraná
1918-1950
32 anos
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
1913-1934
21 anos
Universidade Federal de Santa Maria
1961-1975
14 anos
Fundação Univ. Federal de Uberlândia
1984-1991
07 anos

II – Dia dois da História da ESAM
A carta que Vingt-un escreveu a Paulo Guerra, uma espécie de edição mossoroense de José Guimarães Duque e José Augusto Trindade, merece ser transcrita:

Mossoró, 20 de abril de 1967.

Paulo:
1) O Decreto nº 3/67, de 18 de abril, do Prefeito Municipal, criou a ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA DE MOSSORÓ.
2) A Fundação para o Desenvolvimento da Ciências e da Técnica, da Prefeitura, será o órgão mantedor.
3) Precisamos, com urgência, da sua ajuda total.
4) Queremos que você nos oriente em todos os rumos, na preparação do papelório, na escolha do terreno, na Filosofia da Faculdade, no escalonamento das cadeiras, na indicação e distribuição destas cadeiras pelas diversas séries.
5) Também desejamos que o DOUTOR PAULO GUERRA SEJA O DIRETOR DA ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA DE MOSSORÓ.
6) Para começo de conversa: como v. pode vir passar uma semana aqui, conosco, neste trabalho preliminar? Mandaríamos pegá-lo e depois deixá-lo de volta.
7) Será a primeira Escola Superior de Agricultura do RN, servirá a Mossoró, ao Oeste, ao RN e às áreas de Estados vizinhos da qual Mossoró é metrópole regional.
8) Creio que o Velho Rosado e o velho Felipe estariam felizes com iniciativa.
9) Pergunto a você: as Escola de Agronomia não ensinam uma Agronomia muito universal ou é apenas impressão de um velho agrônomo que não chegou que não chegou a ser Agrônomo, que tem sido bodegueiro de gesso desde que se formou?
10) Vamos pensar numa Escola que ensine Lavoura Seca, Agricultura de Caatinga, as culturas regionais, etc?
11) Quando você vier venha armado: pensando em regimento interno, em plantas de edifícios, que edifícios são indispensáveis para o primeiro ano, que matérias devem constar do primeiro ano, etc.
12) Conselho Estadual de Educação autorizará o funcionamento do primeiro ano. Teremos que preparar o processo, com as toneladas de papel do que é exigido.
13) Até agora a Faculdade, que está completando o seu segundo dia de existências. ESTÁ SOMENTE NUMA FOLHA DE PAPEL. Nem terrenos, nem edifícios, NEM DINHEIRO.
14) Me diga: isto não torna a luta mais gostosa?
15) Vamos seguir a trilha do velho Felipe e do velho Rosado e vamos ganhar esta batalha para Mossoró, se Deus Quiser.
16) Vamos estudar também em que condições você poderia vir para a primeira semana e depois como DIRETOR DA ESCOLA.

Um abraço de
Vingt-un Rosado.”“.

III – O Depoimento de Dix-huit
Numa manhã, de 24 de fevereiro de 1980, na instalação do 7º Congresso Brasileiro de Zoologia, sediado na ESAM, Dix-huit pronunciou as seguintes palavras:
“Foi inspiração de Jorge de Alba e a vontade de Vingt-un Rosado que me carrearam pelo estuário extraordinário da Escola Superior de Agricultura de Mossoró, para realizarmos esta obra que tanto nos orgulha, nos orgulha tanto que ás vezes escondemos no íntimo do coração o valor que damos a esta instituição, que foi feita com aquela inspiração de Paulo Nogueira neto, com o espírito das catedrais.”

SONHO 2

O FISCAL GRATUITO DA CONSTRUÇÃO DE DUAS FACULDADES

O atual Edifício Dom Gentil Barreto, O Santo de Mossoró, foi inaugurado pelo Presidente Artur da Costa e Silva, 172 dias depois do início da sua construção.
Numa cadeira de balanço, hoje guardada pelo Museu da Memória da ESAM, Vingt-un fiscalizou a obra 172 noites.
Uma ficha explica a presença da cadeira no Museu:
“Nesta cadeira com o salário único da paixão por Mossoró, Vingt-un varou as madrugadas da Fazenda Fuão Pinto, fiscalizando durante 172 noites, a construção do 1º edifício da ESAM. @ de julho a 22 de dezembro de 1967.”
O professor José Marcelino, de saudosa memória, encareceu a Vingt-un que viajasse ao Rio de Janeiro para tentar receber os recursos financeiros que o professor Epílogo de Campos prometera para a construção da sede da Faculdade de Ciências Econômicas.
Vingt-un encontrou João Batista Cascudo Rodrigues no Rio e os dois voltaram com o dinheiro esperado. Durante a noite e durante todas as noites Vingt-un saia da ESAM para fiscalizar o edifício que tomaria o nome de Epílogo de Campos.
João Batista Cascudo Rodrigues, preocupado em fazer justiça aos seus soldados, batizou o auditório com o nome de Vingt-un.
No mesmo dia, 22 de dezembro de 1967, o Presidente Costa e Silva, aquele Presidente que em toda a História do Brasil, maiores serviços prestou a Mossoró, inaugurou os edifícios da Escola Superior de Agricultura de Mossoró e da Faculdade de Ciências Econômicas de Mossoró.
Lydio Luciano de Góes, um dos mais valorosos tenentes de João Batista Cascudo Rodrigues telegrafou a Vingt-un:
“Transmito estimado amigo afetuoso abraço parabéns motivo inauguração primeiro edifício da ESAM e edifício Epílogo de Campos, da faculdade de Ciências Econômicas agora possíveis graças sua dinâmica atividade a serviço de Mossoró PT” 07 de dezembro de 1967.

SONHO 3

A PEDRA NÃO PERMANECEU PEDRA

Os graduados de agronomia da ESAM, turma 89/2, disseram seu julgamento sobre Vingt-un:
“SONHO-REALIDADE-TRABALHO-LUTA-DEDICAÇÃO”.
“Um homem sonhou, e dividiu seu sonho com outros, e o sonho passou a palpitar em cada pedra. Se não fora seu sonho a pedra permaneceria pedra apenas, a cidade continuava a ser cidade. A te que, em 22 de dezembro de 1967, dando vazão a torrentes incontidas de paixão, luta coragem e dedicação ergue-se um monumento na terra de Santa Luzia que viria ser mais tarde a realidade da geração de hoje. Não é difícil tentar descobrir se ele acertou, difícil é tentar agradecer a dedicação de toda uma vida”.

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